O infarto agudo do miocárdio (IAM) é um evento raro na gestação.

O infarto agudo do miocárdio (IAM) é um evento raro na gestação.
Entretanto o número de casos vem aumentando devido ao aumento da idade da primeira gestação e às tecnologias de reprodução assistida que permitem às mulheres gestações em idades mais avançadas.
72% ocorrem acima de 30 anos.
38% acima dos 35 anos.
A tendência é que o IAM seja mais freqüente antes do parto e principalmente no terceiro trimestre , provavelmente relacionado ao aumento de consumo de oxigênio pelo miocárdio, devido:
às alterações hemodinâmicas fisiológicas da gestação (aumento do volume sangüíneo, freqüência cardíaca, débito cardíaco),
ao estado de hipercoagulabilidade devido ao aumento dos fatores de coagulação, redução da atividade da proteína S e redução da fibrinólise favorecendo a formação de coágulos,
redução do transporte de oxigênio pelo miocárdio de conteúdo de hemoglobina (anemia) e redução da pressão arterial diastólica que pode reduzir o fluxo sangüíneo coronariano.
Embora a doença aterosclerótica pareça ser a primeira causa de IAM na gestação, ela foi encontrada em menos da metade das pacientes investigadas.
A doença aterosclerótica foi encontrada mais em mulheres com IAM antes do parto e, em 75% das que apresentaram coronárias normais, o evento ocorreu no período periparto (24 horas antes até 24 horas após o parto), enquanto a dissecção de coronárias foi mais freqüente no puerpério.
Os fatores de risco para as essa causa são hipertensão descontrolada, diabetes melitus, idade avançada, pré-eclâmpsia e eclâmpsia, além de trombofilias, uso de anticoncepcionais, história familiar, tabagismo, transfusões sanguíneas e infecções pós-parto.
Várias explicações são encontradas para o IAM com coronárias normais. Poderia ocorrer um espasmo isolado ou associado à trombose e não detectado no momento do exame .
A trombose poderia estar associada ao estado de hipercoagulabilidade fisiológica da gestação ou à concomitância de uma hipercoagulabilidade prévia (trombofilia) ou ao aumento da agregação plaquetária provocado pelo tabagismo.
O espasmo coronário pode ser espontâneo ou induzido por drogas, pré-eclâmpsia, hipertensão gestacional, aumento da reatividade vascular à angiotensina II e norepinefrina, disfunção endotelial ou liberação de renina pelo útero gravídico. O vasoespasmo induzido por drogas, de indicação obstétrica, como os beta-agonistas (terbutalina, salbutamol, ritodrina) utilizadas para sedar trabalho de parto prematuro, derivadas do ergot usadas para induzir trabalho de parto ou prevenir hemorragia pós- parto, e bromocriptina, indicada para inibir a lactação.
A dissecção de coronárias é explicada por prováveis alterações histológicas e bioquímicas na parede arterial associadas ao elevado nível de progesterona que ocorre na gravidez, podendo ser agravado pelo stress hemodinâmico da gestação, trabalho de parto e parto que favoreceriam a dissecção no período pós-parto.
Outras etiologias consideradas para IAM na gravidez são: colagenoses com comprometimento vascular, Doença de Kawasaki, uso de cocaína, estenose valvar aórtica, trombose de prótese valvar aórtica, feocromocitoma, Síndrome Antifosfolipídios, estenose mitral, endocardite bacteriana, anomalia congênita de coronária.
Conclusão:
apesar de raro, o IAM em grávidas pode ocorrer e por diferentes mecanismos que devem ser considerados quando da suspeita diagnóstica. Os sintomas sugestivos devem ser sempre valorizados, pois diagnósticos precoces associados a condutas adequadas podem mudar o prognóstico tanto materno como fetal. Estas pacientes devem ser tratadas em unidades terciárias e acompanhadas por equipe multidisciplinar, e não deve ser esquecido o aconselhamento em relação a futuras gestações.
Dra. Kécia Amorim
Médica Cardiologista
CRM GO 13874
RQE 10821